Editorial

Entre o revisionismo e a correção

Gerou bastante repercussão a atitude tomada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), na terça-feira, que decidiu revogar títulos concedidos a membros da ditadura militar. No debate público, a questão, naturalmente, dividiu opiniões. Afinal, o tema não é novo e, mundialmente, já teve repercussão. Nos Estados Unidos, por exemplo, a retirada de estátuas de escravocratas há alguns anos gerou fortes opiniões em todas as frentes, virando assunto eleitoral inclusive.

Por aqui, desde a instituição da Comissão da Verdade a questão sobre revogar ou investigar coisas acontecidas durante a ditadura militar gera essa discussão. Afinal, é revisionismo histórico? No entanto, a frase dita pela reitora Isabela Fernandes durante a reunião do Conselho Universitário dá o tom. "É inconcebível, na atualidade, manter homenagens concedidas para pessoas notoriamente identificadas como responsáveis por atos que atentam contra a dignidade da pessoa humana e os direitos humanos", apontou.

Foram pessoas que fizeram - ou permitiram que acontecessem - coisas horríveis, como tortura, morte, censura, perseguição e muito mais. Embora haja quem mantenha visão saudosista deste tempo, a história mostrou que isso era um desaforo, uma afronta à democracia e ao direito humano à vida e à liberdade.

Um tempo atrás, se debateu aqui em Pelotas retirar o nome de escravocratas de ruas, avenidas e praças. Ficou definido, no entanto, que não haverão novas homenagens a quem possuiu escravos, uma outra maneira de abordar o tema. É o tipo de situação que se faz necessária para evitar que se coloque em posição de elogio quem feriu tanto a dignidade humana.

Há quem argumente que homenagens levam em conta o momento histórico, sendo complexo revisar com o olhar de outra época. Realmente, é um ponto que faz sentido. No entanto, que bem faz manter em posição de honra alguém que participou de momentos degradantes da história do nosso País? Que recado isso deixa não só para o presente, mas para a posterioridade?

É o tipo de situação em que argumentos sólidos são apresentados por todos os lados e, infelizmente, volta e meia cai num buraco de discussão político-partidária. No entanto, a humanidade, a dignidade e o recado às gerações presentes e futuras é quem devem reger este tipo de discussão.


Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Implicações da dolarização de uma economia

Próximo

A velha estação de Basílio

Deixe seu comentário